Sendo os meus Pais originários das terras do Douro e abalados que foram nos anos 50 para a cidade do Porto,(mais precisamente na fronteira entre o Porto e Matosinhos), era de sua tradição o passar as férias de Verão no mês de Setembro por inteiro o que siginificava que eu e os meus Irmãos, de início íamos sempre contrariados por deixar os nossos companheiros de infância aqui junto á praia e nós tínhamos as montanhas e o calor intenso por companhia...
Ao fim de uma semana, já estávamos ajustados á paz e sossego daquelas aldeias durienses e quando chegavam as colheitas e em especial as vindimas,(onde písávamos as uvas num lagar de pedra), o tempo começava a escassear e o regresso á cidade impunha-se! Eram assim passadas as minhas férias em Setembro!
A figura que aqui quero destacar em especial era a do meu Avô. Ele tinha regressado recentemente da América, país onde esteve imigrado durante 25 anos, foi contemporâneo do Al Capone,(falava muitas vezes nas sua aventuras lá por terras do Tio Sam), e tinha uma figura imponente: Forte de compleição, áspero no trato com as pessoas, duro no comando das tarefas da propriedade e vinhas que possuía, com os seus caseiros que dela tratavam. Á mesa num dos topos sempre presente e atento aos nossos excessos de crianças, logo reprimidos com olhares que nos acalmavam e nos remetiam ao silêncio! Tinha uma caneca de porcelana por onde bebia o seu vinho branco ás refeições e que era seu exclusivo! Tinha junto a casa uma ramada que dava o vinho branco que ele consumia!
Notava-lhe uns dentes de ouro bem colocados e sinal de prosperidade latente nos seus parcos sorrisos, usava um chapeu de abas largas,(se calhar inspirado no Al americano) e tinha o gosto pela caçadas, com uma caçadeira a que de vez em quando ia dando uso lá pelos campos e bosques.
Era assim todo o mês o nosso trato: de um lado a irreverência dos netos da cidade, do outro, um modo de interagir, rude, austero, autoritário, que não dava grandes hipóteses de aproximação...
Mas tudo mudou no meu conceito de miúdo e neto, quando um dos finais das férias e de regresso á cidade, lhe surpreendi na despedida, cedinho pela manhã, ele ainda na cama, e lá íamos nós despedirmo-nos um a um, para a panhar a camioneta da carreira de volta o Porto, os seus olhos rasos de lágrimas... aí eu percebi com os meus 7 ou 8anos de idade, que por detrás daquela fachada austera, havia emoção e sentimento de perda pela nossa ausência, e que afinal de contas as nossas traquinices não o incomodavam por aí além! Sentia a nossa falta!
A partir desse momento ele ficou ainda mais forte na minha afeição e respeito! Nos anos seguintes eu já o abraçava ainda mais intensamente porque sabia que aquele coração "americano", se ia abaixo pelos seus netos que tanto o "incomodavam"...
Nos tempos de hoje embora diferentes nos hábitos, as emoções permanecem e a contagem do tempo é melhor aproveitada sem disfarces emocionais, para que mais tarde não se queixem das oportunidades perdidas!
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