Wednesday, December 19, 2012


 
Nos fins da década de 50 do século passado, os dois irmãos (mais ela do que ele), estavam expectantes com a noite mágica que se aproximava e os presentes que poderiam estar não na chaminé, (que não havia), mas na cozinha, porque muito desejados nos seus imaginários e até porque não havia esse hábito na família, vá lá saber-se, se por dificuldades económicas, ou por falta de vontade.
O que é certo, é que os dois mal acordaram, cedo, foram á cozinha espreitar a possível surpresa no sapatinho e que por acaso, também não tinha sido lá colocado. Mas a mágica reside nesse aspeto, o criar expectativas e o nosso imaginário.
Lá foram os dois sorrateiros para a cozinha e tentado encontrar algo que fosse parecido com presentes ou brinquedos... Mas a única coisa ou objeto que lá estava bem saliente em cima do fogão, era uma cafeteira com o café, que a Mãe deles tinha feito por antecipação, para prevenir atrasos no pequeno-almoço da manhã de Natal.
Sorrateiros e desiludidos, regressaram às suas camas e voltaram a dormir...
Esta história é real, os dois irmãos dentro de um espírito desportivo, riam-se entre eles quando contavam estas passagens aos amigos. Conseguiram ultrapassar a sua deceção e entenderam que se os seus desejos não se realizaram, foi porque os Pais não podiam, não havia dinheiro para estes devaneios, mesmo de Natal, e criaram um hábito futuro, para não mais se dececionarem e criarem novas expectativas da visita do Pai Natal.
Vem esta memória a propósito de uma conversa que eu escutei, enquanto aguardava a minha vez de ser atendido, na fila de um supermercado, ou seja, uns clientes á minha frente, todos já avós de alguma idade, comentavam que era um desperdício, gastar dinheiro com brinquedos para as crianças, porque no seu entender estas, as crianças, de imediato os estragavam, por isso não valia a pena dar e ainda, porque estavam muito caros...
Eu ao ouvir estas conversas, senti um reviver de outros tempos de deceção pelo não recebimento de brinquedos e pouco faltou para rebater estas ideias tão obtusas de pessoas que não cresceram na sua meninice, e que não tiveram a felicidade de receber prendas de Natal... Então os brinquedos estragam-se? Ainda bem, porque estes foram feitos para isso mesmo, para brincar, para ver como são feitos, para entender a lógica das coisas, para educar, numa idade em que se torna fundamental, alimentar o nosso imaginário! Como eu gostaria de ter estragado muitos mais brinquedos! Além das bolas de futebol, sucessivamente furadas e estragadas e das bicicletas de faz de conta, (e que corridas nós fazíamos com aos Amigos de infância), eram estes eventos que nos alegravam nas nossas horas de recreio, e como eu gostava desses momentos...
Remato esta história de Natal no ano da graça de 2012, se mesmo assim ainda haverá crianças que ao acordarem, não tenham sequer uma cafeteira do café, prontinho a servir na sua cozinha, ao pequeno-almoço da manhã de Natal...quanto mais, algo mais substancial ao almoço e, ou, jantar...
Façam por ser felizes, mesmo em tempos de pouco, ou nenhuns brinquedos...para estragar!










Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.        

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