Nos fins da década de 50
do século passado, os dois irmãos (mais ela do que ele), estavam expectantes
com a noite mágica que se aproximava e os presentes que poderiam estar não na
chaminé, (que não havia), mas na cozinha, porque muito desejados nos seus
imaginários e até porque não havia esse hábito na família, vá lá saber-se, se
por dificuldades económicas, ou por falta de vontade.
O que é certo, é que os
dois mal acordaram, cedo, foram á cozinha espreitar a possível surpresa no
sapatinho e que por acaso, também não tinha sido lá colocado. Mas a mágica
reside nesse aspeto, o criar expectativas e o nosso imaginário.
Lá foram os dois
sorrateiros para a cozinha e tentado encontrar algo que fosse parecido com
presentes ou brinquedos... Mas a única coisa ou objeto que lá estava bem
saliente em cima do fogão, era uma cafeteira com o café, que a Mãe deles tinha
feito por antecipação, para prevenir atrasos no pequeno-almoço da manhã de
Natal.
Sorrateiros e desiludidos,
regressaram às suas camas e voltaram a dormir...
Esta história é real, os
dois irmãos dentro de um espírito desportivo, riam-se entre eles quando
contavam estas passagens aos amigos. Conseguiram ultrapassar a sua deceção e
entenderam que se os seus desejos não se realizaram, foi porque os Pais não
podiam, não havia dinheiro para estes devaneios, mesmo de Natal, e criaram um
hábito futuro, para não mais se dececionarem e criarem novas expectativas da
visita do Pai Natal.
Vem esta memória a propósito
de uma conversa que eu escutei, enquanto aguardava a minha vez de ser atendido,
na fila de um supermercado, ou seja, uns clientes á minha frente, todos já avós
de alguma idade, comentavam que era um desperdício, gastar dinheiro com
brinquedos para as crianças, porque no seu entender estas, as crianças, de
imediato os estragavam, por isso não valia a pena dar e ainda, porque estavam
muito caros...
Eu ao ouvir estas
conversas, senti um reviver de outros tempos de deceção pelo não recebimento de
brinquedos e pouco faltou para rebater estas ideias tão obtusas de pessoas que
não cresceram na sua meninice, e que não tiveram a felicidade de receber
prendas de Natal... Então os brinquedos estragam-se? Ainda bem, porque estes
foram feitos para isso mesmo, para brincar, para ver como são feitos, para entender
a lógica das coisas, para educar, numa idade em que se torna fundamental,
alimentar o nosso imaginário! Como eu gostaria de ter estragado muitos mais
brinquedos! Além das bolas de futebol, sucessivamente furadas e estragadas e
das bicicletas de faz de conta, (e que corridas nós fazíamos com aos Amigos de infância),
eram estes eventos que nos alegravam nas nossas horas de recreio, e como eu
gostava desses momentos...
Remato esta história de
Natal no ano da graça de 2012, se mesmo assim ainda haverá crianças que ao
acordarem, não tenham sequer uma cafeteira do café, prontinho a servir na sua
cozinha, ao pequeno-almoço da manhã de Natal...quanto mais, algo mais
substancial ao almoço e, ou, jantar...
Façam por ser felizes,
mesmo em tempos de pouco, ou nenhuns brinquedos...para estragar!
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