ARIANE
Ariane é um navio.
Tem mastros, velas e bandeira à proa,
E chegou num dia branco, frio,
A este rio Tejo de Lisboa.
Carregado de Sonho, fundeou
Dentro da claridade destas grades...
Cisne de todos, que se foi, voltou
Só para os olhos de quem tem saudades...
Foram duas fragatas ver quem era
Um tal milagre assim: era um navio
Que se balança ali à minha espera
Entre as gaivotas que se dão no rio.
Mas eu é que não pude ainda por meus passos
Sair desta prisão em corpo inteiro,
E levantar âncora, e cair nos braços
De Ariane, o veleiro.
MIGUEL TORGA Prisão do Aljube - Lisboa, 1 Jan 1940
Quase um poema de amor
Há muito tempo já que não escrevo um poema
De amor.
E é o que eu sei fazer com mais delicadeza!
A nossa naturezaLusitana
Tem essa humanaGraça
Feiticeira
De tornar de cristal
A mais sentimental
E baçaBebedeira.
Mas ou seja que vou envelhecendo
E ninguém me deseje apaixonado,
Ou que a antiga paixão
Me mantenha calado
O coração
Num íntimo pudor,
Há muito tempo já que não escrevo um poema
De amor
Miguel Torga é o nome literário do médico Adolfo Rocha nascido em S. Martinho de Anta, distrito de Vila Real, a 12 de Agosto do ano de 1907. Proveniente de uma família humilde, teve uma infância dura, que lhe deu a conhecer a realidade do campo, sem bucolismos, feita de árduo e contínuo trabalho. Após uma breve passagem pelo seminário de Lamego, emigrou com 13 anos para o Brasil, onde durante cinco anos trabalhou na fazenda de um tio em Minas Gerais. Regressou a Portugal em 1925, concluiu o ensino liceal e frequentou em Coimbra o curso de Medicina, que terminou em 1933. Exerceu a profissão de médico em São Martinho de Anta e em outras localidades do país, fixando-se definitivamente em Coimbra, como otorrinolaringologista, em 1941...
PORQUE A NOSSAS MEMÓRIAS DE GRANDES FEITOS E PESSOAS GRANDIOSAS DEVEM SER LEMBRADAS, O NOSSO PORTUGAL NÃO TOLERA TRAIDORES!