Wednesday, June 17, 2009


Quando os milicianos da Ansar e-Hezbollah, barbudos e de bastões em riste, começaram a atacar a multidão que se concentrava, Anousheh e Babak correram rua abaixo, perdendo-se um do outro no meio do caos. Ela procurou-o sem sucesso nas ruas laterais. Pensou em regressar a casa, mas sabe que o seu irmão mais velho e protector não sairá dali enquanto não a encontrar. Imagina-o deitado na rua, em agonia, ou numa carrinha a caminho da prisão, talvez a de Evin, com a ala de isolamento onde diz que a mãe foi mantida durante sinistros 40 dias, em 2003.
Antes de regressar para o meio da multidão e arriscar ser espancada, decide livrar-se da mochila, que contém uma câmara digital cheia de imagens potencialmente provocatórias de manifestantes a atirar pedras, da carteira carregada de documentos de identificação e dos telemóveis dela e do irmão, com os números de todos os seus contactos. "Podem, por favor, ficar com isto?", pergunta a um grupo de estranhos sentados num carro a observar a revolta. "Preciso de encontrar o meu irmão".
Os desconcertados estranhos ficam com a mochila, abrem-na para ter a certeza de que o conteúdo não é perigoso, e vêem--na regressar para o tumulto, uma figura solitária de casaco bege e um leve lenço verde na cabeça.
A artista gráfica Anousheh é uma improvável activista política. Vive com os pais. Ficou em casa no dia das eleições, ao contrário dos pais e irmão, que votaram em Mir-Houssein Mousavi. Mas ela acredita que Mousavi deveria ter ganho.
Usámos o telemóvel para lhe ligar no domingo de manhã e para lhe dizer que tínhamos a mochila dela. Explica então o que lhe aconteceu depois de nos ter deixado, no sábado à noite. Quando correu para encontrar o irmão, a polícia antimotim gritou-lhe: "Sai daqui ou vamos bater-te, vamos esmagar-te." Ela respondeu: "Vá, batam-me, mas eu tenho à mesma que encontrar o meu irmão."
O cenário era caótico. Havia milicianos barrigudos e de capacete a fazer rodopiar bastões. Polícias de unidades especiais, de uniformes negros, em motorizadas. Havia agentes antimotim. Enquanto navegava entre homens armados, enfrentou insultos e bastonadas, pelo menos cinco, a contar pelas nódoas negras.
Após 90 minutos, Anousheh encontrou o irmão, abrigado na entrada de um edifício, igualmente preocupado e ensanguentado. Mas em vez de irem para casa, diz, regressaram aos protestos, cantando slogans e jogando ao gato e ao rato com a polícia, até às seis da manhã.
"Aprendi com a minha mãe que temos de lutar pelos nossos direitos. Os direitos são uma conquista, não uma dádiva".
Exclusivo PÚBLICO/Los Angeles Times

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